sábado, 26 de agosto de 2017

RESENHA: 'A mágica da arrumação'

A abordagem japonesa que promete por fim de uma vez por todas na desagradável bagunça doméstica


Título: A mágica da Título original: Jinsei ga tokimeku katazuke no maho
Autor: Marie Kondo
Ano:2011
Total de páginas:160
Editora: Sextante
Tradução da edição em inglês (The life-changing magic of  tidying): Marcia Oliveira
ISBN:978-85-431-0209-2

O livro 'A mágica da arrumação' é o best-seller que ficou em primeiro lugar na lista do The New York Times com mais de 2 milhões de exemplares vendidos no mundo. Foi escrito pela japonesa Marie Kondo, a criadora do método de arrumação chamado por ela de KonMari, que consiste em uma técnica  descrita como simples, transformadora e que vai libertar seu usuário de uma vez por todas da cansativa e aparentemente infindável tarefa de arrumar a casa por permitir colocar um fim definitivo a desagradável bagunça doméstica. Essa tática consiste em um processo fundamentado no sentimento de felicidade que o objeto possuído é capaz de despertar no seu possuidor.

O ponto de partida para tal mudança é a decisão de dar a transformação definitiva na vida e assim partir para o primeiro passo que consiste no descarte de tudo que não traz alegria e portanto não considerados desnecessários no dia a dia, ou por já terem cumprido a sua função ou porque talvez nunca virão a ter utilidade. O segundo ponto é rodear-se somente de coisas que ama, mantendo apenas um lugar especifico para cada classe de objeto, o que livrará de vez daquela perda de tempo com horas gastas procurando algo que necessita naquele exato momento e assim terá prazer e motivação diariamente. 

Ela é enfática na importância do descarte no processo de arrumação e cita diversas vezes o procedimento e acrescenta que não adianta apenas guardar os pertences e mudar móveis de lugar para ter a impressão de que arrumou. Cita que é preciso ter uma razão concreta, para não por tudo a perder. Significa mais do que por em ordem. Deve-se focar no que eu enquanto usuária do método, quero guardar, o que eu gosto, que me faz feliz e dá satisfação a minha vida, sem receio de jogar fora o que não se encaixa nessas descrições.

Uma contradição observada é quando a autora relata que todos os seus clientes aplicaram a técnica por ela criada e tiveram uma influência positiva em suas vidas após alcançarem o objetivo de por definitivamente ordem na bagunça, sendo que linhas depois ela cita que nem todos alcançaram o que desejavam e nem mesmo chegaram a completar o curso por ela ministrado.

Ela cita fatos relacionados ao passado como culpados pelo comportamento de desordem, em que é necessário a conscientização da necessidade de mudança e desenvolvimento da habilidade de ser organizado, o que i gerar clareza para distinguir o que é inútil, assim como e o que é necessário fazer ou não para por a casa em ordem e consequentemente a própria vida. Outro ponto é o fato do método não ser único e estar intimamente ligado aos valores pessoais e ao estilo de vida que cada indivíduo deseja alcançar, por isso uma adaptação pessoal de cada um que almeje essa transformação faz-se necessária.

Outro aspecto interessante é a abordagem feita pela autora a cerca da raíz da desorganização, sobre uma pessoa não ser capaz de se manter organizada. Marie Kondo cita que essa pessoa simplesmente não aprendeu a  organizar os seus pertences na infância por não ter sida ensinada por seus pais e cita uma taxa praticamente insignificante de 1% que cumpre esse papel. E enfatiza a importância dessa prática fazendo uma comparação a ser tão necessára quanto alimentar-se e vestir-se.

Alerta sobre o perigo do efeito rebote que pode ser causado pela escolha de métodos errados que não surtirão os efeitos desejados. Outro problema pode ser causado pela execução errônea do método KonMari que apesar de ser feito baseado nas escolhas pessoais de cada um, precisa ser realizado de acordo com a ordem e período pré-estabelecidos por sua criadora. Caso não seja realizado dessa maneira surtirá probabilidade de retorno da bagunça, o que causa desmotivação.

Dicas preciosas dadas por Marie Kondo são as seguintes: quem optar por seguir o método deverá ter em mente a busca da perfeição; confiar na própria capacidade de escolha e de organizar espaços; e que a quantidade de objetos descartados não é proporcional a de compras; escolher por ordem e sem titubear o que jogar fora e onde guardar, o que escolher ficar; ter cuidado com armadilhas que podem sabotar o processo como: buscar a praticidade, ter o cuidado de não realizar o descarte perto dalgum dos membros da família para evitar a reciclagem doméstica e apenas tirar a bagunça de vista; antes de iniciar o procedimento de organização, pensar no estilo de vida que deseja ter, sempre se perguntando o porque da escolha feita, aí saberá se aquele item terá utilidade na sua nova vida; realizar durante o dia, com janelas abertas facilitando a entrada dos raios solares, o que facilita a visualização.

Ponto interessante é porque ela diz que definiu a maneira de organizar o seu método. É dividido por categorias e não por localização dos cômodos porque existem objetos de categorias repetidas em diversos locais da casa o que pode sabotar o processo por parecer que faz sempre a mesma coisa, sem sucesso. Por isso cada categoria deve ser descartada toda de uma vez.

Separou como possíveis causas da desorganização, algumas tais como: culpar a preguiça ou estar sempre 'ocupada', não colocar os objetos de voltar no lugar onde pegou, falta de ações adequadas em que é possível ver que o trabalho não está indo em vão, não por prazer no que faz e encarar a organização como um peso.

O livro é dividido em 5 partes. Na primeira parte a autora comenta sobre as dificuldades que as pessoas encontram em manter as suas casas e escritórios (porque ela também especifica que atende ambientes de trabalho além dos espaços domésticos); a segunda parte é destinada a falar sobre o procedimento do descarte, desde técnicas, importância e benefícios para o processo. A explicação sobre o seu promissor método de arrumação é descrito no capítulo 3, em que conta a ordem correta da arrumação com observações sobre o critério de escolha enquanto nos dois últimos relata a vida após a aplicação completa do método.

O livro é caracteristicamente pequeno, semelhante a um livreto, e todo o conteúdo é descrito em capítulos muito curtos de até uma folha de extensão com uma linguagem super simples e portanto muito fácil de ser compreendida. Se o leitor não optar ler os capítulos por etapas o que seria interessante para melhor compreensão das dicas de Kondo san, é possível finalizá-lo rapidamente devido ao conciso interior.

Alguns itens não tem êxito na explicação devido as diferenças culturais entre os dois países Brasil e Japão, como por exemplo: a escolha de organização em primeiro plano de roupas por estação. Isso funciona no Japão que é um país com as quatro estações bem definidas, o que não acontece no Brasil, um país de clima irregular onde é possível vivenciar todas as estações do ano em um único dia. Outro item é a exclusão definitiva das roupas de andar em casa com o pretexto de ser elegante até entre 4 paredes, o que também funciona naquele país por possuir uma cultura que as pessoas não 'dão tanta importância' a maneira pela qual os outros decidem expor os seus gostos através do vestuário e é possível até ver pessoas vestindo o que tem vontade e até mesmo andando de pijama em lojas e supermercados.

Outra contradição encontrada durante a leitura é a história sobre quantidade de peças de uma cliente de 2.000 para apenas poucas peças de roupa 64/65.

A leitura deste livro não é uma perda de tempo como já ouvi algumas pessoas comentarem e pode ser até mesmo interessante para os que tem vontade de conhecer mais sobre a cultura japonesa, como a crença da cura com as mãos, o foco na arrumação do quarto e banheiro da casa, o motivo de respeito e da gratidão a todos os objeto que compramos e fazemos uso no dia a dia e a nossa própria casa e para conhecer um pouco mais sobre a  crença religiosa chamada xintoísmo que tem como um de seus preceitos acreditar na existência de alma em todas as coisas, que juntamente com o budismo são as principais religiões daquele país.